Usinas deixaram de entregar 20% do biodiesel
SÃO PAULO, 9 de janeiro de 2008 - Cerca de 20% do biodiesel contratado pelas distribuidoras na semana passada não foram entregues pelas usinas, segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), que representa 80% das distribuidoras brasileiras. Apesar de governo, distribuidoras e produtores considerarem normais eventuais atrasos, por se tratar da primeira semana de mistura obrigatória, analistas acreditam que o risco de as usinas não cumprirem os contratos - assim como ocorreu no ano passado - é de médio a alto. A estimativa é que os estoques atuais sejam suficientes para três meses.
A dificuldade de entrega estaria no fato de o valor que remunerará o litro do biodiesel no sexto e no sétimo leilões - R$ 1,85 - estar abaixo do custo médio de produção, acima de R$ 2. Por conta da dificuldade em atender os contratos - que começaram a vencer em 1º de janeiro - usinas estariam até tentando comprar o produto pronto. "Recebi na semana passada a ligação de um corretor de óleos interessado em intermediar a compra de biodiesel pronto da Barralcool para uma outra usina que venceu o leilão", conta Sílvio Rangel, gerente de Biodiesel da Usina Barralcool, localizada em Barra do Bugres (MT). Corretores da Aboissa e da Uniamérica afirmaram que desconhecem essa demanda por comercialização de biodiesel fora dos leilões da Agência Nacional de Petróleo (ANP), operação proibida por lei.
Pressionado pela demanda do biodiesel, o preço do óleo de soja subiu 6,3% somente da semana passada para ontem, segundo Marcelo Barros, gerente da divisão de biodiesel na Uniamérica. "Na última sexta-feira, a tonelada foi vendida a R$ 2,35 mil e ontem, a R$ 2,5 mil", completa Barros.
A punição para as usinas que não entregarem biodiesel no prazo em 2008 são muito mais rígidas, implicando em multas no valor do produto não fornecido e na proibição de participação nos leilões seguintes. Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, avalia que essas regras de fato são mais inibitivas, no entanto, acredita que podem ter como efeito uma onda de ações judiciais por parte das usinas para não arcarem com as punições previstas. "Elas podem entrar na Justiça, alegando falta de condições econômicas para cumprir a entrega", completa Pires.
Amarillys Romano, analista da consultoria Tendências, reconhece que existe sim o risco de as usinas não entregarem o biodiesel contratado, considerado por ela como "médio". "No entanto, não seria interessante às usinas inaugurarem o programa com desabastecimento. Seria um tiro no pé", diz.
Pires acrescenta que muitas das usinas que não entregaram até 31 de dezembro de 2007, participaram dos novos leilões e, apesar de fecharem contrato abaixo do custo de produção, acabaram se saindo melhor. Isso porque o preço até 31 de dezembro era de R$ 1,76 o litro e agora está em R$ 1,85.
Menos da metade do volume de biodiesel que deveria estar disponível até 31 de dezembro não foi entregue pelas usinas. Dos 885 milhões de litros contratados nos primeiros cinco leilões, a estimativa da ANP é que 398 milhões de litros tenham sido fornecidos.
Do total, a Petrobras detém 25 milhões de litros em estoque, segundo Silas de Oliva Filho, gerente comercial de Biocombustíveis da estatal. Outros 20 milhões estão armazenados com as distribuidoras. O estoque é suficiente para menos de um mês de consumo no País. Segundo Pires, as usinas também devem deter outra parte do estoque, no máximo, para atender mais dois meses de consumo.
"Corremos o risco de ter biodiesel para os três primeiros meses do ano e não ter mais. A capacidade existe no papel , mas muitas empresas não produzem e não vão produzir a esse preço", afirma Pires. A usina de biodiesel da Barralcool, paralisará a produção, esperando que preços maiores sejam negociados no próximo leilão, previsto para março. "Participamos dos dois últimos, mas não arrematamos porque o prejuízo de produzir para vender a R$ 1,86 é maior do que o de ficar parado", diz Rangel.
Para abastecer os outros meses do ano, o programa do governo depende da entrega do produto em 2008. No sexto e no sétimo leilões, foram contratados 380 milhões de litros, que abasteceriam o mercado no primeiro semestre. Mais 100 milhões também foram leiloados e contratados em dezembro para formação de estoque estratégico da Petrobras. "Esse leilão de estoque foi emergencial", reconhece Edson Silva, superintendente de Abastecimento da ANP.
Apesar de analistas afirmarem que os custos de produção do biodiesel estão acima do contratados nos leilões da ANP, algumas das empresas que participaram dos últimos leilões garantem que terão margem ou vão empatar. A usina de biodiesel da Caramuru Alimentos foi uma das que arrematou lotes no último leilão e, segundo César Borges, vice-presidente da empresa, o hedge feito com matéria-prima e o planejamento da produção garantirão uma pequena margem na operação. A Fiagril, de Mato Grosso, também arrematou lotes no sexto leilão. O diretor Miguel Vaz Ribeiro afirmou que só conseguirá entregar o contratado no sexto leilão (23 milhões de litros), porque já tinha adquirido a matéria-prima no ano passado. "Atualmente, o custo é de R$ 2,17 por litro", conta Ribeiro.
Os números do Sindicom são considerados subestimados pelo diretor-executivo da União Brasileira dos Produtores de Biodiesel (Ubrabio), Sérgio Beltrão. A ANP não divulgou balanço de oferta. (Fabiana Batista - Gazeta Mercantil)
Fonte: Gazeta Mercantil
A dificuldade de entrega estaria no fato de o valor que remunerará o litro do biodiesel no sexto e no sétimo leilões - R$ 1,85 - estar abaixo do custo médio de produção, acima de R$ 2. Por conta da dificuldade em atender os contratos - que começaram a vencer em 1º de janeiro - usinas estariam até tentando comprar o produto pronto. "Recebi na semana passada a ligação de um corretor de óleos interessado em intermediar a compra de biodiesel pronto da Barralcool para uma outra usina que venceu o leilão", conta Sílvio Rangel, gerente de Biodiesel da Usina Barralcool, localizada em Barra do Bugres (MT). Corretores da Aboissa e da Uniamérica afirmaram que desconhecem essa demanda por comercialização de biodiesel fora dos leilões da Agência Nacional de Petróleo (ANP), operação proibida por lei.
Pressionado pela demanda do biodiesel, o preço do óleo de soja subiu 6,3% somente da semana passada para ontem, segundo Marcelo Barros, gerente da divisão de biodiesel na Uniamérica. "Na última sexta-feira, a tonelada foi vendida a R$ 2,35 mil e ontem, a R$ 2,5 mil", completa Barros.
A punição para as usinas que não entregarem biodiesel no prazo em 2008 são muito mais rígidas, implicando em multas no valor do produto não fornecido e na proibição de participação nos leilões seguintes. Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, avalia que essas regras de fato são mais inibitivas, no entanto, acredita que podem ter como efeito uma onda de ações judiciais por parte das usinas para não arcarem com as punições previstas. "Elas podem entrar na Justiça, alegando falta de condições econômicas para cumprir a entrega", completa Pires.
Amarillys Romano, analista da consultoria Tendências, reconhece que existe sim o risco de as usinas não entregarem o biodiesel contratado, considerado por ela como "médio". "No entanto, não seria interessante às usinas inaugurarem o programa com desabastecimento. Seria um tiro no pé", diz.
Pires acrescenta que muitas das usinas que não entregaram até 31 de dezembro de 2007, participaram dos novos leilões e, apesar de fecharem contrato abaixo do custo de produção, acabaram se saindo melhor. Isso porque o preço até 31 de dezembro era de R$ 1,76 o litro e agora está em R$ 1,85.
Menos da metade do volume de biodiesel que deveria estar disponível até 31 de dezembro não foi entregue pelas usinas. Dos 885 milhões de litros contratados nos primeiros cinco leilões, a estimativa da ANP é que 398 milhões de litros tenham sido fornecidos.
Do total, a Petrobras detém 25 milhões de litros em estoque, segundo Silas de Oliva Filho, gerente comercial de Biocombustíveis da estatal. Outros 20 milhões estão armazenados com as distribuidoras. O estoque é suficiente para menos de um mês de consumo no País. Segundo Pires, as usinas também devem deter outra parte do estoque, no máximo, para atender mais dois meses de consumo.
"Corremos o risco de ter biodiesel para os três primeiros meses do ano e não ter mais. A capacidade existe no papel , mas muitas empresas não produzem e não vão produzir a esse preço", afirma Pires. A usina de biodiesel da Barralcool, paralisará a produção, esperando que preços maiores sejam negociados no próximo leilão, previsto para março. "Participamos dos dois últimos, mas não arrematamos porque o prejuízo de produzir para vender a R$ 1,86 é maior do que o de ficar parado", diz Rangel.
Para abastecer os outros meses do ano, o programa do governo depende da entrega do produto em 2008. No sexto e no sétimo leilões, foram contratados 380 milhões de litros, que abasteceriam o mercado no primeiro semestre. Mais 100 milhões também foram leiloados e contratados em dezembro para formação de estoque estratégico da Petrobras. "Esse leilão de estoque foi emergencial", reconhece Edson Silva, superintendente de Abastecimento da ANP.
Apesar de analistas afirmarem que os custos de produção do biodiesel estão acima do contratados nos leilões da ANP, algumas das empresas que participaram dos últimos leilões garantem que terão margem ou vão empatar. A usina de biodiesel da Caramuru Alimentos foi uma das que arrematou lotes no último leilão e, segundo César Borges, vice-presidente da empresa, o hedge feito com matéria-prima e o planejamento da produção garantirão uma pequena margem na operação. A Fiagril, de Mato Grosso, também arrematou lotes no sexto leilão. O diretor Miguel Vaz Ribeiro afirmou que só conseguirá entregar o contratado no sexto leilão (23 milhões de litros), porque já tinha adquirido a matéria-prima no ano passado. "Atualmente, o custo é de R$ 2,17 por litro", conta Ribeiro.
Os números do Sindicom são considerados subestimados pelo diretor-executivo da União Brasileira dos Produtores de Biodiesel (Ubrabio), Sérgio Beltrão. A ANP não divulgou balanço de oferta. (Fabiana Batista - Gazeta Mercantil)
Fonte: Gazeta Mercantil